sexta-feira, 11 de março de 2016

A sangue frio | Truman Capote - Ele





Foto: por @tipocoelhosA sangue frio
Autor: Truman Capote
Editora: Companhia das letras
Edição: 2003/440p.





Conheci esse livro por culpa da amada Netflix, que tinha em seu catalogo ( infelizmente não tem mais ) o filme intitulado Capote, que conta os bastidores de todo o processo pra que o livro "A Sangue Frio" fosse escrito.

No livro temos essa historia verídica escrita de forma romanceada inaugurando, como o próprio autor diz, o gênero literário o "romance de não ficção" ou "romance sem ficção" (há controvérsias).

A história contada é a do assassinato da família Clutter, em novembro de 1959 na cidadezinha de Holcomb no Kansas, Estados Unidos.

Não gostei particularmente do jeito que o autor escreve, achei em certos momentos confuso, (em certo ponto achei que poderia ser até problema da tradução, sera?) mas a visão dele ao descrever tanto a família Clutter quanto os assassinos é incrível.

Narrando de forma romanceada, logo no começo do livro ele descreve o inicio do dia de um dos familiares e logo em seguida o inicio do dia de um dos assassinos, me forçando a ver que, em ambos os casos, o dia parecia normal, corriqueiro, com pessoas normais fazendo coisas normais, o que é extremamente assustador em ambos os lados.

Ele me fez pensar na família que não tinha a menor ideia do que ia acontecer naquele dia, e me fez pensar também no assassino que vai a padaria comprar pão, que quem sabe senta ao nosso lado, que nos deseja bom dia e saindo dali entra em uma casa, mata uma família inteira e saindo da casa, quem sabe vai parar em um bar, beber uma cerveja, e desejar bom dia para outras pessoas …

O livro é dividido em 4 partes, e logo na primeira os assassinos são pegos, então não espere um suspense que só no final os assassinos são pegos.

O autor se preocupa mais em descrever os cinco anos que esses assassinos passaram presos esperando a sua sentença, e nesse tempo, com o contato que o autor teve com esses assassinos, ele traça o perfil deles.

Ele humaniza esses assassinos e, na minha opinião, não com a intensão de nos fazer perdoar, ele só se coloca na posição de contador dessa historia, de ambos os lados dessa historia, da família rica e aparentemente perfeita, o casal, filhos, uma bela casa, um cachorro … E os assassinos, famílias pobres, traumas de infância, primeiros delitos, um futuro que aparenta já estar escrito, que já caminhava para uma tragedia.

E você percebe que não ha a intensão de nos fazer perdoar ( que fique claro que sei que nosso perdão ou a falta dele é irrelevante ) quando o titulo do livro faz todo sentido do mundo, e que não parece haver o mínimo remorso por parte dos assassinos, pra eles é como se não houvesse peso no que eles fizeram, e é ai que se encaixa o que foi dito mais acima, me parece sim que os assassinos poderiam muito bem, depois de matar uma família inteira, sentar num bar, beber uma cerveja e nos desejar bom dia.

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Uma quebra no texto pra falar um pouco sobre o filme.

A grande diferença do livro para o filme é que no filme o personagem principal é o escritor, e o que é abordado é a relação que ele cria com os assassinos.

A forma que o Diretor nos conta a história mostra um Capote tentando manipular os assassinos, se envolvendo com eles para ter acesso a informações, informações da infância, detalhes da vida até o momento derradeiro do assassinato, mas que depois acaba se apegando mesmo a essas pessoas, há quem diga que ele se apaixonou por um dos assassinos.

Há um momento do filme que ele diz que não irá terminar o livro até que os assassinos sejam condenados e mortos e quando isso realmente acontece ele fica inconsolável.

E dele é a frase “Mais lagrimas são derramadas pelas orações atendidas do que pelas não”


Postado por: André

2 comentários:

  1. "Inaugurando, como o próprio autor diz, o gênero literário de não ficção (há controvérsias)." Estranho pra um autor dizer isso. Eu achei haha. E chocada que há boatos de que ele tenha se apaixonado por um dos assassinos... que loucura.

    Não sabia que era baseado em uma história real, até ver o post de vocês no instagram.

    Que interessante isso de ver os dois lados da moeda, e como você disse, a naturalidade dos assassinos, a vida rotineira e comum. A gente nunca vê dessa forma né?!

    Me pareceu mais bacana assistir ao filme primeiro, o processo da criação e pesquisa digamos assim, para depois ver o resultado. Farei isso!!

    (Carol)

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    1. Oi Carol, vlw pelo comentário e vlw mais ainda pois fiz uma correçãozinha, o gênero que ele alega ter inaugurado é o "romance de não ficção" (esqueci uma palavrinha que faz toda a diferença hehe )

      Basicamente um relato jornalistico, porém romanceado...

      Há um Posfácio no livro intitulado "Nem tudo é verdade, apesar de verdadeiro" que cita muitas polemicas em torno do autor e do processo pra que o livro fosse escrito e um dos pontos é esse, tem o seguinte trecho: Vários caminhões de tinta e papel de jornais, revistas e livros foram utilizados para provar que, longe de ser um inventor, ele era o continuador de um gênero com ampla tradição nas letras anglo-saxônicas.

      E com o perfil que o filme faz do Capote, você consegue visualizar ele tomando pra si essa "autoria do gênero" (aparentemente ele era meio babaca rs )

      E é super bacana o fato de, por mais que tanto o livro quanto o filme falem sobre a mesma história, um é complemento do outro, então não importa qual você assistira primeiro, nenhum deles vai chegar a estragar a experiencia em relação ao outro, o importante é não deixe de ver o filme e não deixe de ler esse livro perturbadoramente incrível rs.

      Eu vi primeiro o filme, depois li o livro e assim que terminei de lê-lo tive que assistir o filme novamente e foi de arrepiar.

      Uma curiosidade pra você que curte a Harper Lee, ela viajou com ele pra Holcomb e auxiliou ele nas entrevistas e etc etc, eles eram amigos de longa data.

      E enquanto o autor se matava pra terminar o A Sangue Frio ela terminou o tão falado e já resenhado por vocês O sol é para todos. (tenho que lê-lo)

      Vlw novamente pelo comentário Carol e parabéns pelo seu blog.

      Abraços, André.

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