terça-feira, 2 de maio de 2017

Donnie Darko | Richard Kelly - Ela






Foto: por @tipocoelhos
Donnie Darko
Autor: Richard Kelly
Editora: Darkside
Edição: 2016/254p 


“O livro não é melhor que o filme, o livro é o filme”

E assim começa Donnie Darko.

Donnie Darko conta a história de Donnie – um jovem "excêntrico".
Donnie é sonâmbulo e em uma de suas andanças noturnas ele tem uma visão de um coelho sinistro que diz para ele que o mundo irá acabar em breve:




Donnie tenta entender essa mensagem estranha ao mesmo tempo que lida com aqueles conflitos de jovem: o desencaixe social, as paixões, as impaciências com a família, suas sessões de terapia e as coisas estranhas que andam acontecendo em sua escola.


A primeira parte do livro é uma entrevista com Richard Kelly. Sendo Donnie seu primeiro roteiro/filme ele sobre as dificuldades para conseguir verba para filmar, pra montar a equipe de atores, a falta de credibilidade que tinha no mercado de filmes e de onde veio sua idéia para o filme.
É bem interessante mas um pouquinho cansativo, mas você consegue passar por isso bem rápido, não é algo que desanime de continuar.

A segunda parte é o roteiro do filme, com descrição de local, clima e as falas separadas por personagens.
Quando você lê consegue visualizar perfeitamente o filme na sua cabeça. Diz que é um roteiro sem cortes, mas honestamente não senti diferença do filme, talvez as diferenças sejam bem sutis.
Lendo você consegue pegar detalhes que as vezes pode deixar passar quando está vendo o filme, consegue organizar melhor as idéias e começar a criar teorias.

A terceira parte do livro é talvez a mais interessante: é o livro da vovó morte, personagem que desperta uma tal curiosidade em Donnie (não posso dar spoiler) e desencadeia uma série de acontecimentos que definem o filme/livro.

Existe duas formas de você encarar essa terceira parte: é um material extra e legal ou é uma forma de tentar explicar o filme.
Se fosse a segunda opção seria terrível porque um livro/filme que precisa de explicação deixa de ser interessante, mas na verdade, essa terceira parte mais te traz perguntas do que respostas, e é fascinante.

No início do livro Jake Ggyllenhaal (que interpreta o Donnie no filme) fala que 
sempre que perguntam a ele sobre o que o filme se trata, ele sempre responde de volta: do que você acha que trata?

Isso porque não existe uma resposta certa.
O livro fala sobre viagem no tempo, buracos de minhocas e teorias da relatividade e todo mundo gosta de dizer ‘eu entendi, e é isso que significa’, mas se tratando de assuntos tão complexos e paradoxais como esses, não existe uma única resposta certa.

As probabilidades são infinitas. Por essa questão Donnie é considerado um filme/livro super cult em que as pessoas gostam de dizer que são boas demais porque entenderam tudo, quando na verdade, o mais interessante é a confusão mental que ele nos causa e admitir que não entendeu nada não é vergonha nenhuma, torna divertido e interessante ler, reler, assistir e reassistir até que você crie sua própria teoria maluca, que aliás, é o que não falta nas internets da vida, conteúdo que da pra passar dias e dias lendo sem chegar a conclusão nenhuma, mas que não deixa de ser divertido.

Jamais classificaria Donnie como terror como vi em alguns cantos, e sim como ficção científica com um pequeno toque mais dark.

Se você já assistiu o filme, recomendo que leia pois vai te esclarecer alguma dúvidas e levantar muitas outras.
Essa edição é impecável como todas da Darkside, capa dura, arte incrível, papel leve, ótima diagramação e ilustrações, com um marcador fofo em formato de avião.

Se você só leu, recomendo assistir o filme, que pra mim é uma obra prima.
A ambientação nos anos 90, a atuação dos atores – principalmente do Jake e – a melhor parte – a trilha sonora, fazem dele  o que eu chamo de trio perfeito: livro, filme e trilha sonora impecáveis.
Puro amor!

Você já leu/assistiu ? O que achou? Qual sua teoria sobre tudo?


Postado por: Livia Amaral

segunda-feira, 27 de março de 2017

Evangelho de sangue | Clive Barker - Ela




Foto: por @tipocoelhos
Evangelho de sangue
Autor: Clive Barker
Editora: Darkside
Edição: 2016/360p.


Fiquei bastante tempo pensando no que escrever sobre esse livro... tanto que já tem uns meses que li e até agora nada.

Evangelho de sangue é  uma sequência da aclamada noveleta de Clive Barker, Hellraiser.
Fiquei bem empolgada para ler esse livro porque quando terminei Hellraiser (que você pode ler resenha aqui), fiquei meeega empolgada com o universo do Cenobita;

Esse livro é o encontro de dois personagens icônicos de Clive Barker: O cenobita conhecido como Pinhead e o Detetive Harry D’Amour.

Harry D’Amour é um detetive paranormal. A gente conhece um pouco da história dele e de seus métodos de investigação, que conta com tatuagens sobrenaturais e uma amiga que vê espíritos, à lá Woopi Goldberg
Ele é um detetive de meia-idade que, na resolução de um caso, acaba se deparando com algo bem maior do que esperava: a configuração do lamento, a famosa caixinha que quando desvendada, acaba levando para um universo de dor/prazer além do que imagina nossa vã filosofia.
É dessa forma que Harry acaba cruzando com o Cenobita Pihead, que tem uma missão para Harry, que tenta fugir a qualquer custo.
Essa missão nos leva em uma odisséia até o inferno, com cenários grandiosos e bem curiosos.

Mas a verdade é que esse livro deixou MUITO a desejar.
Procurei ler muitas resenhas pra entender o que é que tava acontecendo, se o problema era eu ou tinha algo errado na obra e as opiniões estão beem divididas.

Eu não gostei.
O começo do livro é bem pesado e gore, com o cenobita fazendo um belo de um massacre atrás de informações. Até aí, acredito que o Barker estava sendo fiel ao gênero que se propôs e eu é que tenho estômago fraco. Vi muitos elogios sobre essa introdução e de fato ela cumpriu a missão que tinha: mostrar o quão sádico é o personagem. Ok, posso lidar com isso.
Ainda nesse ritmo impactante, temos a introdução do personagem de Harry de forma igualmente pesada e aqui, ao contrário da cena com o cenobita, não teve muito propósito...
Mas nós continuamos lendo, porque a gente que saber mais sobre o cenobita e o universo...
Esse desejo é apenas parcialmente atendido e então você começa a ficar ansioso: gente, cadê? O que ta acontecendo?

E então... parece que tudo vai por água abaixo.
A narrativa é bem mal estruturada, com cenas desconexas e personagens rasos, previsíveis e beirando até o irritante, com diálogos ridículos em momentos completamente inoportunos.
O cenário consegue salvar um pouco o livro, é imponente, e interessante assim como a  estrutura do inferno e seus habitantes, mas ainda assim...
Você não cria empatia alguma com os personagens, não compra a idéia que o autor está tentando vender e acaba tremendamente decepcionado.



Não posso negar que mais uma vez a Dakside fez um trabalho maravilhoso com essa edição, mas a história de Clive Barker foi uma grandíssima decepção.
Se você for ler... esteja preparado!
Postado por: Livia Amaral

sábado, 11 de fevereiro de 2017

Vozes de Tchernóbil | Svetlana Aleksiévitch - Ele




Foto: por @tipocoelhos
Vozes de Tchérnobil
Autor: Svetlana Aleksiévitch
Editora: Companhia das Letras
Edição: 2016/384p.



Depois de vaaaarios textos sobre livros lidos pela Livia e nenhuuuum texto meu ... cá estou novamente. 
Ano novo, vida nova, tentarei participar mais desse lindo blog, tentarei ler mais, escrever mais, vou tentar gente, vou tentar ... 

E o livro pra marcar essa minha volta é o Vozes de Tchernóbil da Svletana Aleksiévitch.

Dificil escrever sobre esse livro...

Bom, o livro fala sobre o acidente nuclear de Chernobyl onde uma explosão e um incêndio destruiram um dos reatores desta usina nuclear e com isso foi espalhado particulas radioativas pelas cidades ao redor da usina, radioatividade essa que no decorrer dos anos matou milhares de pessoas.

Não há sequer um número exato de mortes, muitas pessoas até hoje sofrem com doenças que são consequencias diretas desse acidente. 
Há muito material informativo sobre esse desastre, acredito que documentarios, livros, reportagens e etc. 

Mas, esqueçam essa parte "informativa", esqueçam números e estatisticas, esse é um livro sobre pessoas, é um livro extremamente humano e intimo. 
Ele é escrito a partir de testemunhos, entrevistas que a autora fez com pessoas que passaram por essa tragédia.

Da até pra imaginar a autora sentada anotando tudo que está sendo dito por cada pessoa, há trechos onde as pessoas questionam por que a autora esta escrevendo esse livro, como quem diz "é nossa vida, nosso sofrimento, não mero material pra um livro", outras pessoas dizem para ela continuar escrevendo, como quem diz "essa talvez seja a forma de dizer a verdade, deixar a verdade gravada de alguma forma, a verdade que na epoca ninguem quis ouvir"

O livro mostra como o governo foi negligente com todo o ocorrido, como dias após o acidente o então líder da União Soviética Mikhail Gorbachev apareceu na TV para dizer como o acidente foi só um incendio comum, para dizer como o perigo havia passado e tudo estava bem, como não havia motivo pra panico.

O livro fala de bombeiros que foram conter o incendio no dia do acidente, sem nenhuma proteçao ou roupa especial, e que sobreviveram só por mais 14 dias depois do ocorrido devido a exposição a radiação, e como suas esposas ficaram ao seu lado até o fim, mostrando o quão destruidor é o poder da radioatividade e quão grandioso é o amor dessas esposas. 

Há claramente uma comparação com a Guerra, e como de certo modo as pessoas estavam preparadas pra guerra, mas nao pra um desastre desses. 
Em varios trechos as pessoas citam como ouviam que deveriam ir embora das cidades, que havia radioatividade lá, que havia risco de morte se ficassem lá, e como essas pessoas olhavam pra fora e não viam avioes passando no céu, não viam pessoas armadas nas ruas, não viam tanques de guerra, e sendo assim por que deveriam se preocupar e fugir, como quem se pergunta "o que é essa tal radiotividade?"

Há o testemunho de crianças que falam sobre a radioatividade como se fosse uma vilã de desenho da Disney, e que falam sobre a morte de um jeito que criança nenhuma deveria falar. 

É claro que é um livro triste, mas a autora dá voz a essas pessoas que até então não tinham sido ouvidas.

Me pegava lendo ele, e apesar dos nomes das pessoas serem complicadissimos por serem Russos/Ucranianos/Bielorussos eu fazia questao de ler cada nome pensando como cada nome ali é uma pessoa, como ela esta contando essa historia e o minimo que eu devo fazer é saber o nome dela.

Todos devem ler esse livro, todos devem ouvir essas vozes, por mais triste que seja o que essas vozes tem a dizer. 


Postado por: André Santos